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A MAGIA E A DOR

Crítica de Os Observadores

por Ieda Maria Lagos

14.06.2024, 12h30

É na floresta em que a magia e a dor habitam em sincronia. É dessa premissa que parte “Os Observadores”, longa-metragem de estreia dirigido por Ishana Shyamalan, lançado em 2024. Mina, a protagonista, é apresentada como uma personagem em completo desalinho com o seu entorno, nada ao seu redor aparece em foco, ninguém é de fato notado por ela, ela atravessa o começo do filme em um estado de abstração e de fuga em que chega a se fantasiar de outra. 

As duas vezes que ela conversa com Darwin, o pássaro em que é encarregada de entregar a seu novo dono, ela explica sobre a morte da mãe, e sua visão sobre si mesma. Falas desnecessárias na minha opinião, já que ambos os tópicos são elaborados ao longo do filme com bastante clareza. 

Mina então tem esse dever, levar Darwin a outro lugar e nesse processo irá passar por um caminho de florestas no interior da Irlanda. Não é atoa que a floresta à convida, que ela seja atraída para dentro desse ponto de dor e magia, já que a escuridão reconhece seu semelhante, “Quando você olha muito tempo para o abismo, ele olha de volta para você.”

Em um drama com símbolos claros do psicológico, como a floresta como o inconsciente, e os monstros como os traumas, Ishana propõe uma narrativa fabular para tratar de um tema que tanto me interessa: a cura. É ao encarar os monstros, que em verdade são fadas enterradas, que Mina é capaz de se reencontrar com algo de bonito em si mesma, descobrir a força para se unir a outras pessoas, olhar ao seu entorno com atenção suficiente para encontrar a saída quando necessário, o silêncio quando a noite chega, e até mesmo a curiosidade para continuar a viver e não apenas sobreviver. 

Ishana Shyamalan cria um terror fabular que causa medo, não semelhante a um filme qualquer de terror que se fia mecanismos para causar tensão e sustos esperados. Muitas vezes ao longo do filme o terror está na contemplação demorada, a tomada de consciência daquilo que vemos e o monstro pode surgir diante dos olhos lentamente, causando um medo que te faz pensar em um pesadelo, aqueles nos quais não podemos nos mexer. 

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Em “Os Observadores” durante a noite Mina com os outros três sobreviventes presos nessa floresta se permitem ser observados por essas criaturas através de um vidro espelhado. Um reality clichê de casais passa na TV ao mesmo tempo em que eles provam uma existência em completa divergência com aquele modelo.  Mas o que essas criaturas representam? Os monstros que em verdade são fadas, as que viveram em paz em algum momento, e que pela brutalidade humana são enterrados e aprisionados, criaturas que podem se metamorfosear imitando a imagem humana, que perderam as asas e estão aprisionados a noite eterna, e a permanecerem escondidas em tocas profundas durante o dia. 

Mina parece se assemelhar muito à essas criaturas, ao ponto de passar a entender uma delas, aquela que ainda mantem algum resquício de humanidade. Aqueles que observam vivem apenas tentando replicar algo que foi perdido, mas quando Mina se dá conta da humanidade que ainda existe dentro dela e dentro de Madeline, a meio fada, e meio humana, ela pode então passar pelo processo de cura em conjunto, entendendo que perdoar essa criatura, é também tentar se perdoar. 

Os contos de fadas podem ser extremamente assustadores exatamente pela capacidade de fantasiar tudo aquilo que vivemos internamente através de símbolos. As fadas podem vir de um imaginário infantil ingênuo, mas quando esse mesmo ser perde as asas e passa a caminhar sobre as sombras, quando a magia virou pesadelo, aí então é quanto a história pode nos assustar.  

Reconhecer o fim da magia é assustador, entender que os monstros estão mais próximos do que imaginamos mais ainda, mas é na gentileza que Madeline tem suas asas de volta, e o que melhor em uma fábula do que um fim esperançoso para nós como humanidade, e para a magia que nos cerca? 

Em sua primeira obra de longa-metragem, Ishana Shyamalan se mostra tão sonhadora quanto o pai, e deixa clara sua crença de que em comunidade podemos ser salvos, o que me lembrou muito de “A Dama na Água” de 2006 de M. N. Shyamalan. É sempre uma boa surpresa ver obras que utilizam do gênero para trabalhar a magia e o fantástico, e qual outro lugar se não o cinema para dar vida a essas histórias?

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Os Observadores

2024 Horror/Mistério

DIREÇÃO: Ishana Night Shyamalan

ROTEIRO: Ishana Night Shyamalan

ELENCO: Dakota Fanning, Georgina Campbell, Olwen Fouéré e Oliver Finnegan

© 2024 Gangorra Filmes. Todos os direitos reservados.

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